Ficar mais inteligente?

28 de maio de 2024

Você já ouviu falar que bebês e crianças que ouvem Mozart se tornam mais inteligentes? Então o que você está esperando para tornar seu filho um gênio?

Afinal, se isso é possível, é nossa responsabilidade como pais, não?

Quem dera fosse tão simples. E quem dera ser um gênio fosse suficiente para ter uma vida plena (leia até o final). Neste texto, vamos fazer um breve passeio no mundo da pesquisa científica sobre música e desenvolvimento infantil. Desejamos um passeio agradável, divertido e repleto de descobertas. Sugerimos que durante a leitura, você tenha uma trilha sonora, que está neste link, a legendária Sonata para Dois Pianos de Mozart. Esta é a música que deu origem ao famoso “Efeito Mozart”, um dos maiores mitos do neurodesenvolvimento e música.

Em 1993, Rauscher e colaboradores publicaram o estudo “Music and spatial task performance”. Neste estudo, os autores avaliaram o impacto de ouvir a Sonata para Dois Pianos de Mozart no raciocínio visuoespacial e encontraram um efeito positivo, embora temporário (até 15 minutos). Os autores até foram cautelosos em suas conclusões, mas a mídia e departamentos de marketing da época não pouparam esforços em distorcer os resultados. O mito do “Efeito Mozart” estava criado.

Posteriormente, foram realizados dezenas de estudos para se investigar melhor o fenômeno observado no artigo original e ainda há muita controvérsia. Infelizmente, se tornar mais inteligente não parece ser tão simples.

Um dos principais pesquisadores dos impactos da música na inteligência é o cientista Glenn Schellenberg. Em 2004, publicou o icônico artigo intitulado “Music Lessons Enhance IQ“ (link). Ele estudou o efeito do treinamento musical no QI. Como resultado, verificou que o treinamento musical teve efeito de aumento no QI. Contudo, posteriomente o próprio Prof. Schellenberg realizou outros estudos e ainda não está completamente convencido de que o treinamento musical seja capaz de aumentar o QI de crianças (uma aula interessante sobre vários pontos e controvérsias pode ser encontrada neste vídeo).

Isso significa que a música não tem relevância na educação infantil ou nos anos iniciais do fundamental? Claro que não. A música trabalha diversos aspectos do desenvolvimento social, emocional e motor das crianças. Para estes aspectos a evidência científica está mais consolidada. Contudo estes pontos são um tema para outro artigo. Aguarde!

Sobre crianças prodígio, recomendamos que pesquisem sobre a história do sul coreano Kim Ung Yong, criticado por muitos como sendo um “gênio fracassado”. Em resposta, ele comenta “Estou tentando dizer às pessoas que estou feliz do jeito que sou. Mas por que as pessoas têm que chamar minha felicidade de fracasso? […] Alguns pensam que pessoas com QI alto podem ser onipotentes, mas isso não é verdade. Olhe para mim, não tenho talento musical, nem sou excelente nos esportes. […] A sociedade não deve julgar ninguém com padrões unilaterais – todos têm diferentes níveis de aprendizagem, esperanças, talentos e sonhos e devemos respeitar isso”.

Para finalizar, uma pergunta: será que você ficou mais inteligente ao ler este texto?

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